terça-feira, 7 de maio de 2013

Parte 4 - Cinco Dias na Neonatologia

O trabalho tem sido tanto e o tempo tão pouco que nem tenho conseguido escrever com a regularidade que gostaria e que às vezes tanto preciso. Cá vai a continuação do balanço...

Ao 2º dia de vida o G. foi internado no Serviço de Neonatologia e lá esteve durante 5 dias. Foram dias duros, estar naquele sitio todo o dia é avassalador, é intenso. As emoções estão à flor da pele e todos os nossos sentidos estão alerta ao mais pequeno movimento. É um misto de emoções: se por um lado só queria pegar nele e levá-lo para casa, para o conforto da caminha dele e para me enroscar com ele, por outro, preferia tê-lo ali, vigiado e com uma equipa médica sempre a postos caso alguma coisa acontecesse. Preferia tê-lo ali do que passar novamente pela aflição que tinha passado.

O G. esteve ligado a uma máquina que monitoriza o coração e a respiração e correu tudo bem, dentro do normal. Manteve sempre os valores sem percalços. A alimentação não era exclusivamente dada por mim, porque o meu leite não subiu (a médica disse que era normal, devido ao estado de stress e à situação traumática a que estive sujeita) mas adaptou-se muito bem ao suplemento e foram dias pacíficos, apenas de vigilância. E ainda bem que lá estava porque começou a ficar amarelito, com icterícia, e teve de estar com as luzes, se estivesse em casa, tinha de o ter levado para o hospital e às vezes penso se eu teria me apercebido atempadamente. Às vezes há males que vêm por bem...

Estar na Neonatologia todo o dia e ver as outras mães e as enfermeiras a ajudar a cuidar deles, também nos ajuda muito e apesar de não ser mãe de 1ª viagem, ainda aprendi alguns truques e fez-me recuperar a confiança.

Um dos truques que aprendi foi no banho: a maioria dos bebés tem medo do banho porque se sentem desprotegidos e uma das coisas que a enfermeira fazia era embrulhá-los numa fralda de pano e mete-los assim na banheira, depois ia destapando e lavando e tapando novamente. E não é que resulta?!!! Eles não ficam tão vulneráveis e sentem sempre ali uma peça de roupa e ajuda-nos a nós mães a segurá-los melhor porque não corremos o risco deles nos escorregarem.

Criam-se ali laços e afinidades e são uma ajuda preciosa, ajudou-me a sentir-me mais confiante para quando o tivesse de levar para casa e são pessoas que estão habituadas a lidar com situações extremas, que salvam vidas e que não se afligem ao mínimo choro.

Presenciamos uma situação que no inicio me deixou muito apreensiva, mas que depois de ouvir a explicação percebi realmente a função daquelas pessoas que não sabem o que esperar todos os dias e têm de estar sempre preparadas para o pior. Numa das noites em que estávamos com o G. até à hora limite de nos mandarem embora (porque nunca íamos de livre vontade), estávamos apenas nós os dois, todos os pais já tinham ido embora porque infelizmente nem todos tinham a nossa sorte de morara a 10 minutos do hospital e de repente quando nos apercebemos não vimos enfermeira nenhuma, mas não ligamos até que o menino que estava na incubadora atrás de nós começou a chorar. Primeiro ainda era um choro tolerável mas foi piorando, ao ponto de ele estar mesmo aos berros. O meu coração já estava apertado e só me apetecia ir lá e pegar nele, mas uma das regras é que não devemos nem podemos mexer nos outros bébes em circunstância nenhuma. Por isso o meu marido foi procurar uma enfermeira, lá viu uma no fundo da sala e disse-lhe que o bébe não parava de chorar, ao que ela respondeu apressadamente, que já lá ia e entrou para uma sala e fechou a porta. Sem exagero, o menino esteve perto de 20 minutos aos berros. Eu já só pensava que nem pensar que ia deixar o meu filho lá naquela noite, e se fosse o G.?

Quando eu já estava quase desesperada, lá apareceu a enfermeira e foi tratar do bébe e nós dissemos que ele já estava a chorar à muito tempo, ao que ela nem nos respondeu.

Mais tarde a enfermeira que estava a tratar do nosso bébe, que não era a mesma, veio-nos explicar o que se passou: um menino que costumava estar em frente ao G. (que realmente já tínhamos visto que não estava lá) tinha tido um problema (não nos especificou qual) e que estava em risco de vida e por isso todos tinham acorrido a socorre-lo. Felizmente conseguiram e ele estabilizou. Explicou-nos que ali no limiar da vida destes seres humanos tão indefesos a prioridade é a vida e o bébe que estava a chorar estava "apenas" com fome e por isso podia esperar (é que elas sabem distinguir a léguas o tipo de choro, nós mães naquele ambiente e stress não conseguimos).
Entre dar de comer a um e salvar a vida ao outro, primeiro a VIDA.

Viemos de lá muito mais descansados e apercebemo-nos do quanto deve ser difícil o trabalho daqueles médicos e enfermeiras que lidam com estas situações todos os dias...

Ao fim dos cinco dias e como não houve nenhuma situação anormal a registar e porque a icterícia já tinha passado, o G. foi transferido para a Pediatria.


1 comentário:

  1. Conta tudo tão bem, com tanto pormenor, que parece mesmo que estou a visualizar os acontecimentos. A parte melhor é saber desde o início que o final é feliz (nos livros, quando há suspense, vou sempre espreitar o fim...). :-)

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